Cardeal Cañizares: a missa deve emocionar, mas sem virar espetáculo
Por Sergio Mora
ROMA, 17 de Janeiro de 2013 - A Congregação para o Culto Divino
e para a Disciplina dos Sacramentos está preparando um pequeno manual destinado
a ajudar os sacerdotes a celebrar devidamente a santa missa e também os fiéis a
participarem dela com mais proveito. O cardeal Antonio Cañizares adiantou a
novidade durante uma conferência na embaixada da Espanha perante a Santa Sé,
intitulada “A liturgia católica a partir do Vaticano II: continuidade e
evolução”.
“Estamos preparando. [O manual] vai ajudar a celebrar bem e a
participar bem. Eu espero que ele saia ainda este ano, para o verão [no
hemisfério norte]”, declarou o purpurado a ZENIT.
O cardeal, durante a conferência, reiterou a importância dada pelo
concílio Vaticano II à liturgia, “cuja renovação deve ser entendida em continuidade
com a tradição da Igreja e não como ruptura”. Ruptura seja por inovações que
não respeitam a continuidade, seja por imobilidade que amarra tudo à época de
Pio XII, completou Cañizares.
O cardeal recordou em particular a importância que o primeiro documento
conciliar, Sacrosantum
Concilium, concede à sagrada liturgia, por cujo meio “é exercida a
obra da nossa redenção, em especial no divino sacrifício da eucaristia”. “Deus
quer ser adorado de maneira concreta e nós não somos ninguém para mudá-la”. Cañizares
especificou que, quando se fala de Igreja renovada, não se deve entender uma
mera reforma de estruturas, mas uma mudança a partir da liturgia, pois é a
partir da liturgia que se opera a obra da salvação.
Não pode ser esquecido, além disto, o que diz o documento
conciliar: “Cristo está sempre presente na sua Igreja, principalmente na ação
litúrgica. Ele está presente no sacrifício da missa, seja na pessoa do
ministro, 'oferecendo agora pelo ministério dos sacerdotes o mesmo que foi
oferecido na cruz', seja nas espécies eucarísticas”.
O cardeal enfatizou que a finalidade da liturgia “é a adoração de
Deus e a salvação dos homens”, e que “não se trata de uma criação nossa, mas de
uma fonte e ápice da Igreja”. O prefeito da Congregação para o Culto Divino e
para a Disciplina dos Sacramentos criticou abusos existentes, como a
espetacularização, mas elogiou os momentos de silêncio, “que são momentos de
ação”, já que permitem ao sacerdote e aos fiéis falar com Cristo. A atitude
equilibrada “é aquela indicada por São João Batista, quando ele afirma que
deseja diminuir para que o Messias cresça”.
Sobre a animação da missa com cantos, Cañizares disse que é
necessário priorizar o entendimento do mistério, em vez de transformar a missa
em um show para superar "a monotonia".
Acrescentou que o concílio não falou da missa voltada ao povo, o
que permitiu que Bento XVI celebrasse a missa na Capela Sistina voltado para o
altar; isto não exclui que o padre se volte para o povo, em particular durante
a palavra de Deus.
Destacou ainda a necessidade da noção do mistério e de alguns
particulares interessantes que eram respeitados antes, como o altar voltado
para o oriente e a consciência mais clara do sentido da eucaristia como
sacrifício.
Interrogado pela embaixadora do Panamá junto à Santa Sé a respeito
da ação das culturas autóctones na liturgia, o cardeal precisou que “o concílio
fala da adaptação da liturgia”, respeitando “as legítimas variedades”, sem que
elas eliminem os princípios. Recordou, a propósito, uma experiência pessoal que
viveu na Espanha, no domingo de Ramos, quando, em uma missa cigana, um jovem
cantou o 'Cordeiro de Deus' no gênero flamenco, “um verdadeiro suspiro da alma
que emocionou e fez toda a assembleia participar vivamente”.
Cañizares analisou o fato de em muitas igrejas o Santíssimo ser
posto num altar ou capela lateral, fazendo com que “o sacrário desapareça”: com
isto, as pessoas conversam antes da missa e se prepararam menos para ela.
Sobre o caso Lefebvre, o cardeal recordou que Bento XVI ofereceu
uma medida de reconciliação à qual eles não corresponderam, e que “pensar que a
tradição fica em Pio XII também é ruptura”. Fonte: (Zenit.org)
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