Um
canadense que há mais de dez anos entrou em estado vegetativo conseguiu
“responder” a perguntas feitas por pesquisadores, como “você sente
dor?”, durante um exame de ressonância magnética funcional.
O
feito, registrado pelo neurocientista britânico Adrian Owen na
Universidade de Ontario Ocidental, no Canadá, mostra que o paciente
Scott Routley, 39, tem uma consciência mínima.
Fizemos
o exame diversas vezes, e o padrão de atividade cerebral mostra que ele
está claramente escolhendo responder às nossas questões. Acreditamos
que ele sabe quem é e onde está”, afirmou o pesquisador à BBC.
O
grupo de Owen já havia publicado uma pesquisa na revista médica
“Lancet” demonstrando a detecção de consciência mínima em pacientes
antes classificados como em estado vegetativo.
O
estudo foi relatado em reportagem da Folha em novembro de 2011. À
época, o neurocientista afirmou que determinar que alguém está em um
estado minimamente consciente e não vegetativo permanente pode mudar o
prognóstico do paciente, porque as chances de recuperação são maiores
para quem está consciente.
LESÃO CEREBRAL
Quem
sofre uma lesão cerebral pode ter sua consciência afetada em diferentes
níveis. Após um dano que leve ao coma, o paciente pode evoluir para
estados como a morte cerebral, sem possibilidade de recuperação, o coma
crônico ou vegetativo.
Entre
os que ficam vegetativos, parte fica nesse estado em caráter
permanente, com poucas chances de recuperação, e parte retém uma
consciência mínima.
O trabalho de Adrian Owen tenta identificar essa consciência mínima nos pacientes.
O trabalho de Adrian Owen tenta identificar essa consciência mínima nos pacientes.
Scott
Routley sofreu um acidente de carro há 12 anos, que causou uma lesão
cerebral. Seus pais afirmaram à BBC que sempre acharam que o filho tinha
alguma consciência e respondia a questões com movimentos dos dedos, mas
essa percepção não era aceita pelos médicos.
Os
resultados de Routley e de outros pacientes que demonstraram padrões
cerebrais condizentes com respostas durante as ressonâncias magnéticas
serão tema de um documentário exibido pela rede britânica.
O
neurorradiologista Edson Amaro Junior, professor da Faculdade de
Medicina da USP e coordenador do Instituto do Cérebro do hospital Albert
Einstein, afirma que o trabalho de Owen abre a perspectiva de uma nova
linha de pesquisa, mas ainda há muitas perguntas a serem respondidas
antes de confirmar os resultados do estudo atual.
Amaro
explica que a ressonância magnética funcional detecta mudanças na
oxigenação do cérebro que indicam as regiões onde os neurônios estão em
atividade.
Para saber se os pacientes estão respondendo ou não, os padrões de imagem são comparados aos de pessoas “normais”.
Uma
das ressalvas à técnica, segundo o radiologista, é essa comparação,
porque justamente a oxigenação do cérebro pode ter mudado com o dano. “A
pessoa que sofreu a lesão não tem a mesma resposta vascular. O cérebro
está preservado, mas sofreu ruptura de conexões.”
Também
é difícil saber se o paciente está entendendo as perguntas ou não
-porque nem todos têm a audição preservada-, se suas respostas
correspondem ao que foi indagado ou se a ordem das questões influencia a
forma da resposta.
Amaro
diz que uma aplicação importante para a técnica, no futuro, pode ser
melhorar o conforto do doente, ao obter respostas sobre o nível de dor,
como foi tentado agora. Por outro lado, o exame pode aumentar o nível de
ansiedade do paciente, quando ele percebe que pode responder, mas não
perguntar.
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