Sobre o Purgatório
Por que será que eu me
encontro de pé hoje nesse púlpito, meus caros irmãos? O que será que eu
venho dizer para vocês? Ah! Eu venho em nome do próprio Deus. Eu venho
em nome de seus pobres pais, para despertar em vocês aquele amor e
gratidão que vocês lhes devem . Eu venho pra refrescar nas suas memórias
novamente, toda a ternura e todo o amor que eles deram a vocês enquanto
eles ainda estavam sobre essa terra.
Eu venho pra dizer a
vocês que eles sofrem no Purgatório, que eles choram e reclamam com
urgentes gritos o auxílio de suas orações e boas-obras. Eu os tenho
visto gritando das profundezas daquelas chamas que os devoram: -”Digam
aos nossos amigos, aos nossos filhos, aos nossos parentes, como é grande
o mal que eles estão nos fazendo sofrer. Nós nos atiramos aos seus pés
para implorar o auxílio de suas orações! Ah! Diga -lhes que desde que
nós fomos separados deles, nós temos estado queimando em chamas!
Oh! Quem poderia
permanecer tão indiferente diante dos sofrimentos que estamos
enfrentando!” Você vê, meu caro irmão, você escuta aquela terna mãe,
aquele pai devotado e todos aqueles parentes que lhe ajudaram e fizeram
parte de sua vida? Meus amigos, eles gritam: -”Livrai-nos dessa dor,
você pode!” Considerem então meus caros amigos: 1°- A magnitude desses
sofrimentos pelos quais passam as almas do purgatório e 2°- os meios dos
quais dispomos para mitigar esses sofrimentos: nossas boas obras,
nossas orações e acima de tudo, o santo sacrifício da Missa.
Eu não quero parar
neste estágio para provar a existência do Purgatório, pois isso seria
uma perda de tempo. Espero que nenhum de vocês tenha a menor dúvida a
este respeito. A Igreja, à qual Jesus Cristo prometeu a guia do Espírito
Santo e a qual, conseqüentemente, não pode se enganar nem nos enganar,
ensina-nos sobre o Purgatório de um modo bem claro e positivo. Isto é
uma certeza mais que certa, de que lá é um lugar onde as almas dos
justos completam a expiação por seus pecados, antes de serem finalmente
admitidas na glória do Paraíso, o qual, diga-se de passagem, já está
assegurado a elas.
Sim meus caros irmãos,
isto é um artigo de Fé: se nós não tivermos feito penitência
proporcional à gravidade de nossos pecados, ainda que tenhamos sido
absolvidos no Sagrado Tribunal da Confissão, nós seremos obrigados a
expiar por eles. Nas Sagradas Escrituras há muitos textos que mostram
claramente, que embora nossos pecados possam ser perdoados, Deus ainda
impõe-nos a obrigação de sofrer neste mundo duros trabalhos temporais ou
no próximo através das chamas do Purgatório.
Veja o que aconteceu
com Adão. Porque ele se arrependeu logo depois de ter cometido o pecado
original, Deus garantiu a ele que o havia perdoado,mas ainda assim Ele o
condenou a passar nove séculos sobre esta terra fazendo penitência.
Penitências que ultrapassam qualquer coisa que possamos
imaginar:…”maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com
trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de sua vida. Ela te
produzirá espinhos e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o
suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque
és pó, e em pó te hás de tornar…”(Gênesis 3.17). Veja novamente: Davi
ordenou, contrariando a vontade de Deus, que se fizesse o recenseamento
de Israel. Atingido pelo remorso de consciência, ele reconheceu o seu
pecado, atirou-se ao chão suplicando ao Senhor que o perdoasse.
Conseqüentemente, Deus
tocado pelo seu arrependimento, o perdoou. Mas apesar disso,ele enviou
Gad para dizer a Davi que ele teria que escolher entre 3 tipos de
punições que Ele havia preparado para Davi reparar pelo seu pecado: a
peste,a fome ou a guerra. Davi então respondeu: “Ah! Caia eu nas mãos do
Senhor, porque imensa é a sua misericórdia; mas que eu não caia nas
mãos do homem…”(ICrônicas 21). Ele escolheu a peste e esta durou apenas 3
dias, mas matou 7 mil pessoas de seu povo.
Se o Senhor não tivesse
detido a mão do Anjo que estava estendida sobre Israel, Jerusalém
inteira teria ficado despovoada! Davi ao ver todo o mal causado pelo seu
pecado, implorou a graça de Deus pedindo que Deus punisse apenas ele
mesmo, mas que poupasse o seu povo que era inocente. Vejam também as
penitências de Santa Maria Madalena! Quem sabe não sirvam para amolecer
um pouco seus corações?
Meus caros irmãos, o
que serão então, o número de anos que nós teremos que sofrer no
Purgatório, nós que cometemos tantos pecados e que sob o pretexto de já o
termos confessado, não fazemos penitências e nem choramos por eles?
Quantos anos de sofrimento nos esperam na próxima vida?
Como poderia eu pintar
um quadro dos sofrimentos que essas pobres almas suportam, quando os
santos padres da Igreja dizem-nos que os tormentos que elas sofrem são
comparáveis ao que passou Nosso Senhor Jesus Cristo durante sua dolorosa
paixão? Uma coisa é certa, se o menor sofrimento que Nosso Senhor
suportou tivesse sido compartilhado por toda a humanidade, todos
estariam mortos devido à violência de seus sofrimentos. O fogo do
Purgatório é o mesmo que o fogo do Inferno. A diferença entre eles é que
o fogo do Purgatório não é eterno.
Oh! Se Deus permitisse
que uma daquelas pobres almas que está mergulhada nas chamas, aparecesse
agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse
ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa
Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e
soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre
alma nos diria: – “Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses
tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de
Deus!… Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus!..
Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana!… Ser devorado pelo
remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos!…
Oh! Meus filhos!-
gritam os pais e as mães- como podem vocês nos abandonar nessas horas,
nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês
podem ir dormir tranqüilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em
uma cama de fogo? Como vocês tem coragem de se entregar aos prazeres e
alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram
nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de
nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por
tantos anos!.. E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa
intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar
dessas chamas!… Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir
nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são
estes sofrimentos!…”
Sim meus irmãos, as
pessoas julgam de um modo muito diferente, o que é estar nas chamas do
Purgatório por todas essas culpas leves. Se é que é possível chamar de
“leve” algo que nos faz suportar punição tão rigorosa! Que espanto seria
para o homem, grita o profeta real, se mesmo o mais justo dos homens
fosse julgado por Deus sem nenhuma misericórdia! Se Deus achou manchas
até no sol e malícia nos anjos, o que será então do homem pecador? E
para nós que cometemos tantos pecados mortais e praticamente não fazemos
nada para satisfazer a justiça de Deus. Quantos anos de Purgatório!
Meu Deus!-disse Santa
Tereza de Ávila- “que alma seria suficientemente pura para entrar
diretamente no Céu sem ter que passar pelas chamas da justiça?” Em sua
última doença, ela de repente gritou: “Oh Justiça e Poder do meu Deus,
quão terrível sois!” Durante sua agonia, Deus permitiu que ela
contemplasse por alguns segundos a Sua Santidade, assim como os anjos e
os santos do Céu O contemplam.
E isso causou nela um
pavor tão grande, que ela se pôs a tremer e ficou agitada de um modo tão
extraordinário que as irmãs perguntaram-lhe chorando: -”Ah! Madre, o
que está se passando? Certamente que a senhora não teme a morte depois
de tantos anos de penitência e lágrimas amargas!” – Não, minhas filhas,
eu não temo a morte, muito pelo contrário, eu a desejo porque só assim
estarei unida eternamente a Deus. – Oh! Madre, seriam os teus pecados
então, que ainda te aterrorizam depois de tantas mortificações? – Sim
minhas filhas- respondeu Tereza- eu temo pelos meus pecados, mas temo
por algo ainda maior! – Seria então, o julgamento? – Sim, eu temo pela
formidável conta que terei que prestar diante de Deus.
Principlamente porque
nesse momento seremos julgados pela justiça e não pela misericórdia. Mas
tem algo que ainda me faz morrer de terror. As pobres irmãs já estavam
profundamente angustiadas. – Madre, seria por acaso o Inferno? -Não
-respondeu ela – O inferno, Graças a Deus não é pra mim. Oh! Minhas
filhas, é a Santidade de Deus. Meus Deus, tende misericórdia de mim!
Minha vida será confrontada face a face com o próprio Cristo! Ai de mim
se eu tiver a menor mancha ou falha! Ai de mim, se eu tiver a menor
sombra de pecado! – Ai de nós! – gritaram as pobres irmãs – O que será
então no dia das nossas mortes?
O que será então de
nós, meus caros irmãos? Nós que talvez em todas as nossas penitências e
boas obras, talvez nunca tenhamos conseguido satisfazer por um único
pecado perdoado no tribunal da Confissão? Ah! Quantos anos e séculos de
tormento para nos punir?… Vamos pagar muito caro por todas essas
“pequenas falhas” que nós vemos como algo que não tem a menor
importância, como aquelas “pequenas mentirinhas” que nós falamos para
evitar problemas para nós mesmos, aqueles pequenos escândalos, o
desprezo pelas graças que Deus nos concede a cada momento, aquelas
pequenas murmurações nas dificuldades que Ele nos envia! Não, meus caros
irmãos, nós não teríamos nunca a coragem de cometer o menor pecado, se
pudéssemos entender o quanto isto ultraja a Deus e o quão merecemos ser
rigorosamente punidos, já ainda nesse mundo.
Meus irmãos, Deus é
justo em tudo que Ele faz. Quando Ele recompensa-nos até pela menor boa
ação que fazemos, Ele nos dá muito mais do que qualquer um de nós
merecemos. Um bom pensamento, uma boa ação, um bom desejo, ou seja, o
desejo de fazer uma boa obra, mesmo quando não somos capazes de fazê-la,
Ele nunca nos deixa sem uma recompensa. Mas também, quando se trata de
uma matéria de punição, isto é feito com o maior rigor e ainda que
tenhamos a menor falta seremos enviados para o Purgatório. Isto é
verdade absoluta e nós comprovamos isto pela vida dos santos. Muitos
deles não chegaram ao Céu, sem antes terem passado pelas chamas do
Purgatório.
São Pedro Damião
conta-nos que sua irmã permaneceu vários anos no Purgatório porque ela
ouviu com prazer certos tipos de músicas. Conta-se também que dois
religiosos fizeram um pacto um com o outro, acertando que quem morresse
primeiro viria contar ao sobrevivente em que estado ele se encontrava.
Deus permitiu que isso acontecesse e quando um deles morreu, apareceu ao
seu amigo. Ele contou ao seu amigo que tinha permanecido 15 anos no
Purgatório por seu orgulho de sempre querer fazer as coisas a seu modo.
Então seu amigo o cumprimentou por ter permanecido lá por tão pouco
tempo!
O morto então
respondeu: – Eu teria preferido ser queimado vivo por 10 mil anos
ininterruptos nessa terra, pois esse sofrimento nem poderia ser
comparado com o que eu sofri 15 anos naquelas chamas! Um sacerdote
contou a um de seus amigos que Deus o havia condenado a permanecer no
Purgatório por vários meses, por ter segurado a execução de uma boa-obra
que era Vontade de Deus que fosse feita.
Coitados de nós, meus
irmãos! Quantos de nós não temos faltas semelhantes? Quantos de nós
recebemos a tarefa de nossos parentes e amigos de mandarmos celebrar
Missas e dar esmolas e simplesmente fazemo-nos de esquecidos! Quantos de
nós evitamos fazer boas-obras apenas por respeito humano? E todas essas
almas presas nas chamas, porque não temos coragem de satisfazer seus
desejos! Pobres pais e pobres mães, vocês agora estão sendo sacrificados
pela felicidade de seus filhos e parentes! Vocês talvez tenham
negligenciado sua própria salvação para construírem suas fortunas. E
agora vocês estão sendo traídos pelas boas-obras que vocês deixaram de
fazer enquanto ainda estavam vivos! Pobres pais! Quanta cegueira é
esquecer de nossa própria salvação!
Você talvez me dirá:
-Nossos pais eram pessoas boas e honestas. Eles não fizeram nada de tão
grave para merecerem essas chamas! Ah! Se vocês soubesses que eles
precisavam de muito menos do que eles fizeram para cair nessas chamas!
Vejam o que disse a esse respeito, Alberto, o Grande, um homem cujas
virtudes brilharam de modo extraordinário! Ele revelou a um de seus
amigos, que Deus o havia levado ao Purgatório por ter se orgulhado de um
pensamento sobre seu próprio conhecimento. A coisa mais surpreendente
foi que ali haviam verdadeiros santos, muitos que inclusive já tinham
sido canonizados pela Igreja e que estavam passando pelas chamas do
Purgatório.
São Severino, Arcebispo
de Colônia, apareceu a um de seus amigos muito tempo depois de sua
morte e disse-lhe que ele havia passado um longo tempo no Purgatório por
ter adiado pra de noite, as orações do breviário que ele devia ter
recitado pela manhã.
Oh! Quantos anos de
Purgatório não passarão aqueles cristãos que não tem o menor escrúpulo
em adiar suas orações para uma outra hora, apenas pela desculpa de terem
algo mais importante a fazer! Se nós realmente desejássemos a
felicidade de possuir a visão beatífica de Deus, nós evitaríamos tanto
os pecados mortais como os veniais, uma vez que a separação de Deus
constitui-se um tormento tão terrível para essas almas! (FIM)
Do Catecismo da Igreja:
|
Fonte |
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Sermão de São João Maria Vianney sobre o purgatório, retirado do livro “O Espírito do Cura DÁrs”.
Postado por
Mensagens Marianas
às
10:49:00
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