A doutrina da reencarnação é
comum a vários sistemas religiosos, todos de fundo gnóstico. Ela provém de um
erro a respeito do problema do mal e da justiça divina. Modernamente, a
doutrina da reencarnação se tornou muito difundida pelo espiritismo.
Os reencarnacionistas defendem a
tese de que cada pessoa teria várias vidas, e se reencarnaria para pagar os
pecados de uma vida anterior. Desse modo, cada vida nos seria concedida para
expiar erros, que não conhecemos, de uma vida que teríamos tido. Cada reencarnação
seria um castigo pelos males que praticamos em vidas anteriores. Não haveria
inferno. O castigo do homem seria viver neste mundo material, e não tornar-se
puro espírito. Para os reencarnacionistas, "o inferno é aqui".
Eles recusam admitir que esta
vida é única, e que, após a morte, somos julgados por Deus e premiados com o
céu, ou punidos temporariamente no purgatório, ou condenados eternamente ao
inferno. Exige uma "nova oportunidade", enquanto recusam mudar de
vida agora. A eles poderia ser aplicado o que diz um autor a respeito do tempo
e do adiamento dos deveres: "Por que prometes fazer, num futuro que não
tens, aquilo que recusas fazer no tempo que tens?".
Assim também o que defende a
teoria da reencarnação pretende melhorar nas futuras vidas – que imagina terá –
o que se recusa a melhorar já, na vida que tem. Para os hinduístas, a
reencarnação poderia se dar pela transmigração do espírito até no corpo de um
animal ou planta. Para os espíritas, a reencarnação se daria apenas em corpos
humanos.
REFUTAÇÃO
Se a alma humana se reencarna para pagar os
pecados cometidos numa vida anterior, deve-se considerar a vida como uma
punição, e não um bem em si. Ora, se a vida fosse um castigo, ansiaríamos por
deixá-la, visto que todo homem quer que seu castigo acabe logo. Ninguém quer
ficar em castigo longamente. Entretanto, ninguém deseja, em sã consciência,
deixar de viver. Logo, a vida não é um castigo. Pelo contrário, a vida humana é
o maior bem natural que possuímos.
Se a alma se reencarna para pagar os
pecados de uma vida anterior, dever-se-ia perguntar quando se iniciou esta
série de reencarnações. Onde estava o homem quando pecou pela primeira vez?
Tinha ele então corpo? Ou era puro espírito? Se tinha corpo, então já estava
sendo castigado. Onde pecara antes? Só poderia ter pecado quando ainda era puro
espírito. Como foi esse pecado? Era então o homem parte da divindade? Como
poderia ter havido pecado em Deus? Se não era parte da divindade, o que era
então o homem antes de ter corpo? Era anjo? Mas o anjo não é uma alma humana
sem corpo. O anjo é um ser de natureza diferente da humana. Que era o espírito
humano quando teria pecado essa primeira vez?
Se a reencarnação fosse verdadeira, com o
passar dos séculos haveria necessariamente uma diminuição dos seres humanos,
pois que, à medida que se aperfeiçoassem, deixariam de se reencarnar. No
limite, a humanidade estaria caminhando para a extinção. Ora, tal não acontece.
Pelo contrário, a humanidade está crescendo em número. Logo, não existe a reencarnação.
Respondem os espíritas que Deus estaria
criando continuamente novos espíritos. Mas então, esse Deus criaria sempre
novos espíritos em pecado, que precisariam sempre se reencarnar. Jamais cria
ele espíritos perfeitos?
Se a reencarnação dos espíritos é um
castigo para eles, o ter corpo seria um mal para o espírito humano. Ora, ter
corpo é necessário para o homem, cuja alma só pode conhecer através do uso dos
sentidos. Haveria então uma contradição na natureza humana, o que é um absurdo,
porque Deus tudo fez com bondade e ordem.
Se a reencarnação fosse verdadeira, o
nascer seria um mal, pois significaria cair num estado de punição, e todo
nascimento deveria causar-nos tristeza Morrer, pelo contrário, significaria uma
libertação, e deveria causar-nos alegria. Ora, todo nascimento de uma criança é
causa de alegria, enquanto a morte causa-nos tristeza. Logo, a reencarnação não
é verdadeira.
Vimos que se a reencarnação fosse
verdadeira, todo nascimento seria causa de tristeza. Mas, se tal fosse certo, o
casamento - causador de novos nascimentos e reencarnações – seria mau. Ora,
isto é um absurdo. Logo, a reencarnação é falsa.
Caso a reencarnação fosse uma realidade, as
pessoas nasceriam de determinado casal somente em função de seus pecados em
vida anterior. Tivessem sido outros os seus pecados, outros teriam sido seus
pais. Portanto, a relação de um filho com seus pais seria apenas uma
casualidade, e não teria importância maior. No fundo, os filhos nada teria a
ver com seus pais, o que é um absurdo.
A reencarnação causa uma destruição da
caridade. Se uma pessoa nasce em certa situação de necessidade, doente, ou em
situação social inferior ou nociva -- como escrava, por exemplo, ou pária –
nada se deveria fazer para ajudá-la, porque propiciar-lhe qualquer auxílio
seria, de fato, burlar a justiça divina que determinou que ela nascesse em tal
situação como justo castigo de seus pecados numa vida anterior. É por isso que
na Índia, país em que se crê normalmente na reencarnação, praticamente ninguém
se preocupa em auxiliar os infelizes párias. A reencarnação destrói a caridade.
Portanto, é falsa.
A reencarnação causaria uma tendência à
imoralidade e não um incentivo à virtude. Com efeito, se sabemos que temos só
uma vida e que, ao fim dela, seremos julgados por Deus, procuramos
converter-nos antes da morte. Pelo contrário, se imaginamos que teremos
milhares de vidas e reencarnações, então não nos veríamos impelidos à conversão
imediata. Como um aluno que tivesse a possibilidade de fazer milhares de provas
de recuperação, para ser promovido, pouco se importaria em perder uma prova -
pois poderia facilmente recuperar essa perda em provas futuras - assim também,
havendo milhares de reencarnações, o homem seria levado a desleixar seu aprimoramento
moral, porque confiaria em recuperar-se no futuro. Diria alguém: "Esta
vida atual, desta vez, quero aproveitá-la gozando à vontade. Em outra
encarnação, recuperar-me-ei" . Portanto, a reencarnação impele mais à
imoralidade do que à virtude.
Ademais, por que esforçar-se, combatendo
vícios e defeitos, se a recuperação é praticamente fatal, ao final de um
processo de reencarnações infindas?
Se assim fosse, então ninguém seria
condenado a um inferno eterno, porque todos se salvariam ao cabo de um número
infindável de reencarnações. Não haveria inferno. Se isso fosse assim, como se
explicaria que Cristo Nosso Senhor afirmou que, no juízo final, Ele dirá aos
maus: "Ide malditos para o fogo eterno"? (Mt. 25, 41)
Se a reencarnação fosse verdadeira, o homem
seria salvador de si mesmo, porque ele mesmo pagaria suficientemente suas
faltas por meio de reencarnações sucessivas. Se fosse assim, Cristo não seria o
Redentor do homem. O sacrifício do Calvário seria nulo e sem sentido. Cada um
salvar-se-ia por si mesmo. O homem seria o redentor de si mesmo. Essa é uma
tese fundamental da Gnose.
Em consequência, a Missa e todos os
Sacramentos não teriam valor nenhum e seriam inúteis ou dispensáveis. O que é
outro absurdo herético.
A doutrina da reencarnação conduz
necessariamente à ideia gnóstica de que o homem é o redentor de si mesmo. Mas,
se assim fosse, cairíamos num dilema:
Ou as ofensas feitas a Deus pelo homem
não teriam gravidade infinita;
Ou o mérito do homem seria de si, infinito.
Que a ofensa do homem a Deus tenha
gravidade infinita decorre da própria infinitude de Deus. Logo, dever-se-ia
concluir que, se homem é redentor de si mesmo, pagando com seus próprios
méritos as ofensas feitas por ele a Deus infinito, é porque seus méritos
pessoais são infinitos. Ora, só Deus pode ter méritos infinitos. Logo, o homem
seria divino. O que é uma conclusão gnóstica ou panteísta. De qualquer modo,
absurda. Logo, a reencarnação é uma falsidade.
Se o homem fosse divino por sua natureza,
como se explicaria ser ele capaz de pecado? A doutrina da reencarnação leva,
então, à conclusão de que o mal moral provém da própria natureza divina. O que
significa a aceitação do dualismo maniqueu e gnóstico. A reencarnação leva
necessariamente à aceitação do dualismo metafísico, que é tese gnóstica que
repugna à razão e é contra a Fé.
É essa tendência dualista e gnóstica que
leva os espíritas, defensores da reencarnação, a considerarem que o mal é algo
substancial e metafísico, e não apenas moral. O que, de novo, é tese da Gnose.
Se, reencarnando-se infinitamente, o homem
tende à perfeição, não se compreende como, ao final desse processo, ele não se
torne perfeito de modo absoluto, isto é, ele se torne Deus, já que ele tem em
sua própria natureza essa capacidade de aperfeiçoamento infindo.
A doutrina da reencarnação, admitindo
várias mortes sucessivas para o homem, contraria diretamente o que Deus ensinou
na Sagrada Escritura.
Por exemplo, São Paulo escreveu:
"O homem só morre uma vez" (Heb.
9, 27).
Também no Livro de Jó está escrito:
"Assim o homem, quando dormir, não
ressuscitará, até que o céu seja consumido, não despertará, nem se levantará de
seu sono" (Jó, 14,12).
Finalmente, a doutrina da reencarnação vai
frontalmente contra o ensinamento de Cristo no Evangelho. Com efeito, ao
ensinar a parábola do rico e do pobre Lázaro, Cristo Nosso Senhor disse que,
quando ambos morreram, foram imediatamente julgados por Deus, sendo o mau rico
mandado para o castigo eterno isto é, para o inferno, e Lázaro mandado para o
seio de Abraão, isto é, para o céu. (Cfr. Lucas 16, 19-31)
E, nessa mesma parábola Cristo nega que
possa alguma alma voltar para ensinar algo aos vivos.
Em adendo a tudo isto, embora sem
que seja argumento contrário à reencarnação, convém recordar que na, Sagrada
Escritura, Deus proíbe que se invoquem as almas dos mortos.
No Deuteronômio se lê: "Não
se ache entre vós quem purifique seu filho ou sua filha, fazendo-os passar pelo
fogo,
nem quem consulte os advinhos ou
observe sonhos ou agouros, nem quem use malefícios,
nem quem seja encantador, nem
quem consulte os pitões [os médiuns] ou advinhos,
ou indague dos mortos a verdade.
Porque o Senhor abomina todas estas coisas
e por tais maldades exterminará
estes povos à tua entrada" (Deut. 18-10-12).
Disse Jesus aos fariseus:
19 “Havia um homem rico, que se
vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20 Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico.
21 Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além
disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22 Quando o pobre morreu, os
anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23
Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de
longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24 Então gritou: ‘Pai Abraão, tem
piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua,
porque sofro muito nestas chamas’. 25 Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te
de que recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males.
Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26 E, além disso,
há grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar
daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27 O rico
insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, 28 porque eu
tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para
este lugar de tormento’. 29 Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os
profetas, que os escutem!’ 30 O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos
mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31 Mas Abraão lhe disse: ‘Se
não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém
ressuscite dos mortos”’.
JESUS RESSUSCITOU E MUITOS AINDA
NÃO CREEM NELE.
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