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domingo, 13 de maio de 2012

CATECISMO DO SANTO CURA D'ARS SOBRE A CONFISSÃO



   Meus filhos, desde que se tenha uma pequena mancha na alma, deve-se fazer como uma pessoa que tem um belo globo de cristal que guarda cuidadosamente. Se esse globo apanha um pouco de poeira, quando ela o percebe, passa-lhe uma esponja. E eis então o globo claro e brilhante! Do mesmo modo, assim que perceberdes uma manchinha em vossa alma, tomai água benta com respeito, fazei uma dessas boas obras a que está ligada a remissão das penas: uma esmola, uma genuflexão ao Santíssimo Sacramento, a assistência à Santa Missa.
    Meus filhos, isso é como uma pessoa que tem uma pequena doença; não precisa ir ter com o médico, pode curar-se sozinha. Tem dor de cabeça, basta ir deitar-se; tem fome, basta comer. Porém, se é uma doença grave, se é uma chaga perigosa, faz-se preciso o médico; depois do médico, os remédios... Mesma repetição... Quando caímos num grande pecado, temos que recorrer ao médico, que é Padre, e ao remédio, que é a confissão.
    Meus filhos, não podemos compreender a bondade que Deus teve conosco instituindo esse grande Sacramento da Penitência. Se nós tivéssemos uma graça a pedir a Nosso Senhor, nunca pensaríamos em pedir-Lhe essa; mas Ele previu a nossa fragilidade e a nossa inconstância no bem, e o seu Amor levou-O a fazer o que nós não teríamos ousado pedir-Lhe.
    Se dissessem àqueles pobres condenados que estão no inferno há tanto tempo: "Vamos pôr um Padre à porta do inferno, Todos os que quiserem se confessar terão só que sair"; meus filhos, acreditais que ficaria um só? Os mais culpados não receariam dizer os seus pecados, e mesmo dizê-los diante de toda gente. Oh! como o inferno logo ficaria deserto, e como o Céu se povoaria! Pois bem! nós temos os tempos e os meios que aqueles pobres réprobos não têm. Por isso estou bem certo de que aqueles infelizes dizem no inferno: "Maldito Padre, se eu nunca te tivesse conhecido, não seria tão culpado!"
    É bem belo, meus filhos, pensar que nós temos um Sacramento que cura as chagas de nossa alma! Mas há que recebê-lo com boas disposições. Do contrário, são novas chagas sobre as antigas.
    Que diríeis de um homem que está coberto de ferimentos? Aconselham-lhe que vá ao hospital mostrar seu mal ao médico. O médico cura-o, dando-lhe remédios. Eis, porém, que esse homem pega na faca e se dá grandes golpes, e se faz mais mal do que tinha antes? Pois bem! É o que vós fazeis muitas vezes em saindo do Confessionário.
    Meus filhos, há pessoas que fazem más Confissões sem se darem bem conta disto. Essas pessoas dizem: "Não sei o que tenho... " São atormentadas e não sabem por quê... não têm essa agilidade que faz ir direito a Deus; têm não sei que de pesado, de aborrecido, que as fatiga. Meus filhos, são Pecados que ficam, muitas vezes mesmo Pecados Veniais aos quais se tem afeto. Há uns que dizem tudo, mas não têm arrependimento, e fazem a Comunhão assim... Eis o Sangue de Nosso Senhor profanado!... Vai-se à Santa Mesa com um certo tédio. Diz-se: "Entretanto, eu bem acusei todos os meus pecados. Não sei o que tenho". E comunga-se nesta dúvida. Eis aí uma Comunhão indigna, sem que se tenha percebido isso!
    Meus filhos, há outros ainda que profanam os Sacramentos de outro modo. Terão ocultado pecados mortais há dez anos, há vinte anos. Sempre são atormentados; sempre o seu pecado lhes está presente ao espírito; sempre eles têm o pensamento de dizê-lo, e sempre o enxotam: é um inferno. Quando essas pessoas vêem isso, pedem para fazer uma Confissão geral, e dizem os seus pecados como se acabassem de cometê-los; não confessam que os ocultaram durante dez anos, vinte anos. Eis aí uma má Confissão! Deve-se dizer ainda que, desde esse tempo, se deixaram as suas práticas de Religião, que não mais se sentiu aquele prazer que se tinha de servir a Deus.
    Meus filhos, alguns se expõem ainda a profanar o Sacramento quando aproveitam o momento em que fazem barulho ao redor do Confessionário para confessar os pecados que mais custam. Esses dizem: "Eu bem os acusei; tanto pior se o Confessor não os ouviu!" Antes tanto pior para vós, que agistes com astúcia!... Outras vezes fala-se depressa, aproveitando o momento em que o Padre não está atento, para se aviar em fazer passar os pecados grandes.
    Vede: uma casa onde tiver havido por muito tempo toda sorte de sujeiras e porcarias, por mais que a varram, haverá sempre nela mau cheiro. O mesmo se dá com a nossa alma depois da Confissão: para purificá-la são precisas, lágrimas.
    Meus filhos, é preciso pedir o arrependimento. É preciso, depois da Confissão, plantar um espinho no coração, e nunca perder de vista os próprios pecados. Há que fazer como o Anjo fez a São Francisco de Assis: plantou-lhes cinco dardos que nunca saíram.

sábado, 12 de maio de 2012

CATECISMO DO SANTO CURA D'ARS SOBRE A PALAVRA DE DEUS


 pomba biblia religioso religião
   Meus filhos, não é pouca coisa a palavra de Deus! As primeiras palavras de Nosso Senhor aos seus Apóstolos foram estas: "Ide e instruí..." para fazer-nos ver que a instrução passa à frente de tudo.
    Meus filhos, que é que nos faz conhecer a nossa religião? São as instruções que ouvimos. Que é que nos dá o horror ao pecado?... nos faz enxergar a beleza da virtude?... nos inspira o desejo do céu? As instruções. Que é que faz conhecer aos pais e às mães os deveres que têm a cumprir para com seus filhos, aos filhos os deveres que têm para com seus pais? As instruções.
    Meus filhos, por que se costuma ser tão cego e tão ignorante? Porque não se faz caso da palavra de Deus. Há alguns que não dizem sequer um Pai-Nosso e uma Ave-Maria para pedir a Deus a graça de bem ouvi-la e aproveitá-la.
   Eu creio, meus filhos, que uma pessoa que não ouve a palavra de Deus como é preciso, não se salvará; não saberá o que é preciso fazer para isso. Mas com uma pessoa instruída há sempre recurso. Por mais que se extravie por toda sorte de maus caminhos, pode-se sempre esperar que ela torne ao bom Deus cedo ou tarde, ainda quando só fosse na hora da morte.   Ao passo que uma pessoa que não é instruída é como uma pessoa que definha, como um doente em agonia que não tem mais conhecimento: não conhece nem a grandeza do pecado, nem a beleza da alma, nem o preço da virtude, arrasta-se de pecado em pecado como um trapo que arrastam na lama.
   Vede, meus filhos, a estima que Nosso Senhor tem da palavra de Deus; àquela mulher que grita: "Bem-aventurados os peitos que vos criaram e o ventre que vos trouxe!" Ele responde: "Quão mais felizes aqueles que escutam a palavra de Deus e a põem em prática!"
   ... Meus filhos, sai-se durante as instruções, passa-se a instrução a rir, não se escuta, acredita-se ser sábio demais para vir ao catecismo...acreditais, meus filhos, que isso passará assim? Oh! não, por certo! Deus disporá as coisas bem diversamente.
   Reparai, como é triste! Pais e mães ficaram fora durante as instruções; entretanto, eles são obrigados a instruir os filhos, mas que quereis que eles lhes ensinem? Eles próprios não são instruídos. Tudo isso corre risco de levar para o inferno... É pena!
   Meus filhos, tenho notado que não há momento em que se tenha mais vontade de dormir do que durante as instruções... Dir-me-eis: "Tenho sono demais..." Se eu tomasse um violino, ninguém pensaria em dormir, tudo se mexeria, tudo ficaria alerta...
   Há uns que se vão embora repetindo em todos os tons: "Os padres dizem bem o que querem". Não, meus filhos, os padres não dizem o que querem; dizem o que há no Evangelho. Os padres que vieram antes de nós disseram o que nós dizemos; os que vierem depois de nós deverão dizer a mesma coisa. Nós só devemos dizer o que Nosso Senhor ensinou.
    Meus filhos, vou citar-vos um exemplo que mostra o que é  não crer no que os padres dizem. Havia dois soldados que passavam por um local onde se fazia uma missão. Um deles propôs ao camarada irem ao sermão; e foram. O missionário pregava sobre o inferno: "Acreditais tudo o que diz esse cura?” perguntou o menos mau dos dois. – “Oh! Não”, respondeu o outro, “acredito que são besteiras  para fazer medo ao mundo.”- “Pois bem! eu acredito; e para te provar que acredito vou deixar o estado militar e vou entrar num convento.” – “Vai para onde quiseres! eu, eu continuo o meu caminho". E eis que, continuando o seu caminho, cai doente e morre. O outro, que estava no convento, sabe da morte dele e se põe em orações, para que Deus lhe faça conhecer em que estado morrera o companheiro. Um dia, estando a rezar, aparece-lhe o companheiro; ele reconhece e pergunta-lhe: "Onde estás tu?" – “No inferno, estou condenado!” – “Infeliz! crês agora no que disse o missionário?” – “Sim, creio. Os missionários só têm uma falta, é dizerem só uma centésima parte das penas que se sofrem aqui".
    Meus filhos, penso muitas vezes que o maior número dos cristãos que se condenam, condenam-se por falta de instrução... Entende-se mal a religião... Tinham condição de saber e não sabem.
    ...Uma pessoa instruída tem sempre dois guias que marcham na sua frente: “o conselho e a obediência”.

CATECISMO DO SANTO CURA D'ARS SOBRE A COMUNHÃO


          


   Nosso Senhor disse: "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vos concederá". Jamais teríamos pensado em pedir a Deus seu próprio Filho. Mas aquilo que o homem não poderia imaginar, Deus o fez. Aquilo que o homem não pode dizer nem conceber, e que nunca se atreveria a desejar, Deus no seu Amor, disse-O, concebeu-O e executou-O. Ousaríamos nós jamais dizer a Deus que fizesse morrer seu Filho por nós, que nos desse sua Carne a comer e seu Sangue a beber? Se tudo isso não fosse verdadeiro, o homem poderia então imaginar coisas que Deus não pode fazer; teria ido mais longe que Deus nas invenções do Amor?... Não é possível.
    Sem a Divina Eucaristia, não haveria felicidade neste mundo, a vida não seria suportável. Quando recebemos a Sagrada Comunhão, recebemos a nossa alegria e a nossa felicidade.
    O bom Deus, querendo dar-se a nós no Sacramento do seu Amor, deu-nos um desejo vasto e grande que só Ele pode satisfazer... Ao lado deste belo Sacramento nós somos como uma pessoa que morre de sede ao lado dum córrego; entretanto, teria só que curvar a cabeça!... Como uma pessoa que fica pobre ao lado dum tesouro; entretanto teria só que estender a mão!
    Aquele que comunga perde-se em Deus como uma gota d'água no Oceano. Não se pode mais separá-los. Se pensássemos bem nisto, haveria razão para nos perdermos pela eternidade nesse abismo de amor!...
    No dia do juízo ver-se-á brilhar a Carne de Nosso Senhor, através do corpo glorificado daqueles que O tiverem recebido dignamente na Terra, como se vê brilhar ouro em cobre ou prata em chumbo.
    Quando acabamos de comungar, se alguém nos dissesse: "Que é que levais convosco para casa?" poderíamos responder: "Levo o Céu". Um santo dizia que nós éramos uns Porta-Deuses. É bem verdade, mas nós não temos bastante Fé. Não compreendemos a nossa dignidade. Saindo da Mesa Santa, somos tão felizes quanto os magos, se pudessem ter levado consigo o Menino Jesus.
    Tomai um vaso cheio de licor e tampai-o bem: conservareis o licor enquanto quiserdes. Assim também, se conservásseis bem Nosso Senhor no recolhimento, depois da Comunhão, sentiríeis por muito tempo esse fogo devorador que inspiraria ao vosso coração um pendor para o bem e uma repugnância para o mal.
    Quando temos a Deus em nosso coração, deve este ficar bem ardente. O coração dos discípulos de Emaús ardia só de ouvi-Lo.
    Não gosto, quando alguém vem da Mesa Sagrada que se ponha imediatamente a ler. Oh! não; de que serve a palavra dos homens quando é Deus que fala? ... Deve-se fazer como alguém que é bem curioso e que escuta às portas. Deve-se escutar tudo o que o bom Deus diz à porta do nosso coração.
    Quando haveis recebido a Nosso Senhor, sentis vossa alma purificada, que se banha no Amor de Deus.
  Quando se faz a Sagrada Comunhão, sente-se qualquer coisa de extraordinário, um bem-estar que percorre todo o corpo, e se espalha até às extremidades. Que é este bem-estar? É Nosso Senhor que se comunica a todas as partes do nosso corpo e as faz palpitar. Somos obrigados a dizer, como São João: "É o Senhor!" Os que não sentem completamente nada são bem para lastimar!...
           
FONTE: 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Santo Cura D'Ars, Sobre as Tentações

 
NÃO SOMOS NADA POR NÓS MESMOS
Sobre as Tentações

As tentações são necessárias para que possamos perceber que não somos nada por nós mesmos. Santo Agostinho diz-nos que deveríamos agradecer a Deus tanto pelos pecados dos quais Ele nos preservou como pelos pecados que Ele por caridade nos perdoou. Caso venhamos a cair nas ciladas do demônio, nós pensamos que somos capazes de nos levantarmos novamente, confiando muito mais nas nossas promessas e resoluções do que na força de Deus. Isto é uma grande verdade!
        Quando nós não temos nada do que nos envergonhar, quando todas as coisas estão correndo bem e de acordo com os nossos desejos, nós ousamos pensar que nada poderia nos derrubar. Nós esquecemos facilmente do nosso próprio nada e de nossa fraqueza interior. Chegamos mesmo a protestar, que estamos prontos a morrer do que permitirmos sermos vencidos. Nós vemos o esplêndido exemplo de São Pedro, que disse ao Senhor que ainda que todos se escandalizassem Dele, ele não se escandalizaria. Coitado! Para mostrar-lhe, como o homem entregue às suas próprias forças, não é absolutamente nada, Deus fez uso, não de reis, príncipes ou armas, mas sim da voz de uma simples empregada na noite da prisão de Jesus, que confrontou Pedro com um monte de interrogações. E nesse momento Pedro protesta dizendo que nem sequer conhecia o Senhor, e fez de contas que nem sabia do que ela estava falando. Para assegurar aos presentes, de um modo ainda mais veemente de que ele não conhecia Jesus, ele chegou mesmo a jurar! Ó Senhor, o que não somos capazes de fazer quando nós estamos entregues a nós mesmos!
Existem pessoas, que fazem questão de dizer, o quanto eles invejam os santos que fizeram grandes penitências! Eles chegam a acreditar que poderiam fazer o mesmo! Às vezes quando lemos sobre a vida de alguns mártires, nós gostaríamos, nós pensamos, estarmos prontos para sofrer tudo que eles sofreram por amor a Deus. Chegamos ao ponto de pensar: é um momento de sofrimento muito curto para a recompensa que vamos receber no Céu! Mas o que faz Deus para nos ensinar a nos conhecermos, ou melhor, para reconhecermos que não somos absolutamente nada? Eis o que Ele faz: Ele permite que o demônio se aproxime um pouquinho mais de nós. E nesse momento, veja o que acontece com os cristãos que há apenas uns minutos atrás invejavam aquele eremita que vive retirado no deserto, alimentando-se somente de ervas e raízes e que fez a firme resolução de submeter seu corpo a duras penitências. Coitado! Uma leve dor de cabeça, a simples espetada de um espinho, o faz se condoer todo por si próprio! Não importando o quão grande e forte ele possa aparentar. Ele se aborrece, reclama da dor. A poucos momentos atrás, estava disposto a fazer todas as penitências dos anacoretas (monges do deserto) e agora, o menor contratempo o faz cair no desespero! 
Agora vejamos esse outro cristão, que parece querer entregar toda sua vida a Deus. Que possui um ardor que tormento algum poderia apagar! Um pequeno escândalo... uma palavra de calúnia... e até mesmo uma fria receptividade ou pequena injustiça cometida contra ele... uma gentileza retribuída com ingratidão... imediatamente desperta nele todos os sentimentos de ódio, vingança e descontentamento, a ponto de freqüentemente, ele desejar nunca mais ver o seu próximo ou pelo menos tratá-lo de um modo frio, de forma a demonstrar o quanto aquela pessoa o ofendeu. E quantas vezes, isso se torna o seu primeiro pensamento ao acordar, assim como o pensamento que sempre o impede de dormir em paz?
Coitado!
Meus caros amigos, nós somos umas coisas pobres, e por isso deveríamos contar muito pouco com nossas próprias resoluções.
Cuidado se você não sofre tentações!
A quem o demônio mais persegue? Talvez você ache que as pessoas que são mais tentadas, são indubitavelmente, os beberrões, os provocadores de escândalos, as pessoas imodestas e sem vergonha que deitam e rolam na sujeira e na miséria do pecado mortal, que se enveredam por toda espécie de maus caminhos. Não, meu caro irmão! Não são essas pessoas! Ao contrário, o demônio os deixa de lado, ou seja ele se apóia nelas enquanto elas vivem, porque do contrário ele não teria tanto tempo para fazer o mal. Isso porque, quanto mais tempo essas pessoas viverem, mais seus maus exemplos arrastarão outras almas para o Inferno. De fato, se o demônio tivesse perseguido esse velho companheiro obsceno e sem-vergonha, ele teria encurtado a duração de sua vida em 15 ou 20 anos, de forma que ele não teria destruído a virgindade daquela garota ali, seduzindo-a para a inominável mira de suas indecências. Ele não teria novamente seduzido aquela mulher casada e nem ensinado suas más lições àqueles rapazinhos, que talvez as continue a praticar até o final de suas vidas. Se o demônio tivesse incitado a este ladrão ali na frente, a roubar em tudo quanto é ocasião, ele teria ido acabar na forca e não teria tempo pra induzir seu vizinho a seguir seu mau exemplo. Se o demônio tivesse encorajado esse beberrão ali, a se embebedar incessantemente com o vinho, ele já teria morrido a muito tempo atrás nas suas libertinagens, e não teria tempo de fazer com que outros seguissem seu mesmo caminho. Se o demônio tivesse tirado a vida deste músico ali, ou daquele organizador de bailes, ou daquele dono de cabaré, em algum tipo de tumulto ou assalto, ou em qualquer outra ocasião, quantas almas não seriam poupadas da danação eterna! Santo Agostinho nos ensina que o demônio não importuna muito essas pessoas; pelo contrário, ele até as despreza e cospe sobre elas. 
Assim, você me perguntaria: então quem são as pessoas mais tentadas? São estas meus caros amigos, observem-nas atentamente. As pessoas mais tentadas são aquelas que estão prontas, com a graça de Deus, a sacrificar tudo pela salvação de suas pobres almas, que renunciam a todas as coisas que a maioria das pessoas buscam ansiosamente. E não é um demônio só que as tenta, mas milhões de demônios procuram armar-lhes ciladas. Uma vez, São Francisco de Assis e todos os seus religiosos estavam reunidos numa área plana e aberta, onde eles tinham erguido algumas choupanas de palha. Buscando um meio de fazer com que todos fizessem penitências extraordinárias, São Francisco ordenou que fossem trazidos todos os instrumentos de penitência, e seus religiosos os trouxeram aos feixes.
Nesse momento, havia um jovem homem a quem Deus concedeu a graça de poder ver o seu Anjo da Guarda. De um lado, ele viu todos esses bons religiosos que buscavam satisfazer sua sede por mais penitências e do outro, o Anjo permitiu-lhe ver uma legião de 18 mil demônios, que estavam se reunindo em conselho para ver de que modo eles poderiam subverter esses religiosos pela tentação. Um dos demônios disse: "Vocês não percebem mesmo! Esses religiosos são tão humildes; Ah! que virtude espantosa! são tão desapegados de si próprios, tão apegados a Deus! Eles possuem um superior que os guia, de forma que é impossível ser bem sucedido em qualquer ataque que façamos a eles. Vamos esperar até que o superior deles morra e então introduziremos entre eles jovens sem nenhuma vocação que trarão um certo relaxamento de espírito para a ordem, e aí sim, nós os venceremos.
Mais tarde, quando esse homem entrou na cidade, ele viu um demônio sentado sozinho no portão de entrada da cidade e que tinha a tarefa de tentar todos os habitantes daquele lugar. Esse santo perguntou ao seu Anjo da Guarda porque motivo, para tentar apenas aquele grupo de religiosos, haviam tantos demônios, ao passo que para toda aquela cidade havia apenas um sentado à sua entrada. Seu bom Anjo respondeu-lhe então, que aquelas pessoas não precisavam de tentação, uma vez que já estavam entregues aos seus próprios pecados, ao passo que aqueles religiosos buscavam fazer tudo que era bom, apesar de todas as ciladas que os demônios podiam armar para eles.
Meus caros irmãos, a primeira tentação com a qual o demônio tenta qualquer um que começou a servir melhor a Deus chama-se "respeito humano". Aquela pessoa acometida pelo respeito humano, não ousará mais a ser vista em todo lugar, passará a se esconder de todos aqueles com os quais ela andava misturada na busca de uma vida de prazeres. Se alguém lhe disser que ela está muito mudada, imediatamente ela ficará envergonhada! Aliás, o que as pessoas vão dizer dela, é a sua contínua preocupação. Chega a um ponto de perder a coragem de fazer qualquer boa ação diante dos olhos alheios. Se o demônio não consegue fazê-la retroceder na caminhada espiritual através do respeito humano, ele infundirá nela um extraordinário medo, dizendo-lhe que suas confissões não servem pra nada, que seu confessor não a entende, que seja lá o que ela fizer, será sempre em vão, que ela irá pra condenação eterna do mesmo modo ou que ela obteria o mesmo resultado (a salvação) no final, deixando tudo correr solto ao invés de continuar a lutar, afinal as ocasiões de pecado já demonstraram ser demais para ela!
Por que será, meus irmãos, que quando alguém não dá a mínima importância à salvação de sua alma, ele parece não sofrer a menor tentação? Mas assim que ele resolve mudar de vida, em outras palavras, assim que ele deseja reformar sua vida para que Deus venha morar nele, imediatamente todo o inferno cai encima dele?
Ouçamos o que nos diz Santo Agostinho a esse respeito: "Do modo como o demônio se comporta em relação ao pecador: Ele atua como um carcereiro que possui muitos prisioneiros trancados em sua prisão, mas como ele não carrega ou não possui a chave que poderia libertá-los dali, ele tranqüilamente pode sair sossegado, certo de que nenhum deles tem como fugir. Este é o modo como ele age com aqueles pecadores que nem sequer consideram a possibilidade de deixar o pecado para trás. Ele nem sequer se dá ao trabalho de tentá-los. Ele vê tais pessoas como perda de tempo, não apenas porque elas não pensam em deixá-lo, mas também porque ele não deseja multiplicar suas cadeias. Por outro lado, seria inútil tentá-los. Ele permite que eles vivam em paz enquanto estiverem vivendo no pecado mortal. Ele esconde do pecador a situação em que ele se encontra, o mais que ele pode, até a morte, e quando acontece dele pintar um quadro da vida daquele pecador, ele o faz de uma maneira tão aterrorizante, que o infeliz pecador súbito cai no desespero. Mas com qualquer um que se decidiu a mudar de vida, que se decidiu a entregar-se completamente à Deus, é toda uma outra história!"
Enquanto Santo Agostinho vivia no pecado e na maldade, ele não tinha porque se preocupar com as tentações. Ele acreditava se encontrar em paz, como ele mesmo nos conta. Mas no momento que ele resolveu a dar as costas para o demônio, ele teve que travar um combate contra ele a ponto de perder sua respiração na luta. E isso durou cinco anos! Ele chorou as lágrimas mais amargas e fez as mais severas penitências: Ele chega ao ponto de dizer: "Eu discutia com ele em minhas cadeias! Um dia eu achei que tinha sido vitorioso, no próximo dia lá estava eu de novo, prostrado no chão. Esta guerra cruel e obstinada durou cinco anos. No final, Deus me concedeu a graça de vencer o combate contra o meu inimigo".
Você pode ver também, a luta que São Jerônimo teve que empreender, quando ele se decidiu a viver apenas para Deus e também quando planejou visitar a Terra Santa. Quando ele ainda estava em Roma, concebeu um desejo novo de trabalhar pela sua salvação. Ao sair de Roma, ele se retirou para um deserto para se entregar a todos os exercícios que o amor por Deus o inspirasse a fazer. Então o demônio, prevendo como sua conversão iria influenciar tantas outras pessoas, se encheu de fúria e desespero. 
São Jerônimo não foi poupado da menor tentação. Eu não acredito que exista um santo que foi mais tentado do que ele. Isto foi o que ele escreveu a um de seus amigos:
"Meu caro amigo, eu quero confidenciar-lhe sobre minhas aflições e o estado ao qual o demônio procura reduzir-me. Quantas vezes nessa vasta solidão, na qual o calor do sol se faz insuportável, quantas vezes os prazeres de Roma parecem me assaltar! A dor e a amargura, das quais minh'alma se encontra repleta, fazem me derramar rios de lágrimas dia e noite sem parar. Eu procurei me esconder nos lugares mais isolados para lutar contra minhas tentações e chorar pelos meus pecados. Meu corpo está todo desfigurado e coberto com uma veste rude em trapos. Eu não tenho outra cama a não ser o chão nu e minha única comida é um cozido de raízes e água, mesmo quando estou doente. Apesar de todos esses rigores, meu corpo ainda se recorda dos sórdidos prazeres dos quais Roma inteira está envenenada, meu espírito ainda se encontra no meio daqueles companheiros de prazer e aventuras com os quais eu tão imensamente ofendi a Deus. Nesse deserto, ao qual eu mesmo me condenei para evitar o inferno, junto dessas rochas sombrias, onde eu não tenho outra companhia, a não ser escorpiões e os animais selvagens, meu espírito ainda queima dentro do meu corpo morto, com um fogo de impurezas. O demônio ainda assim, ousa a me oferecer prazeres para que eu os prove. Eu me contemplo tão humilhado por essas tentações e o único pensamento que me faz morrer de pavor é não saber quais austeridades às Quais eu ainda devo submeter o meu corpo para uni-lo com Deus. Eis porque eu me atiro ao chão, aos pés do meu crucifixo, banhado em minhas próprias lágrimas, e quando eu não posso mais chorar, eu pego algumas pedras e bato no meu peito com elas, até que o sangue saia pela minha boca, implorando por misericórdia, até que Deus tenha piedade de mim.
Será que existe alguém, capaz de entender a miséria do meu estado, desejando tão ardentemente agradar a Deus e amar somente a Ele? Ainda assim, eu estou sempre pronto a ofendê-lo. Que dor isso representa para mim? Ajude-me, meu caro amigo, com o auxílio de suas orações, de forma que eu me torne mais forte para repelir o demônio, que jurou me levar para a condenação eterna".
Meus caros amigos, são esses os combates a que são submetidos os grandes santos de Deus. Coitados de nós! Como somos dignos de pena por não sermos assaltados ferozmente pelo demônio! De acordo com todas as aparências, podemos dizer que somos amigos do Diabo: ele nos faz viver numa falsa paz, ele nos embala no sono, deixando-nos com a pretensão de que recitamos algumas boas orações, distribuímos algumas esmolas e que fizemos menos más ações do que os outros. De acordo com o nosso padrão, meus caros irmãos, se perguntarmos, por exemplo, àquele sustentador do cabaré ali, se o Demônio o tem tentado, ele simplesmente dirá que nada o incomoda absolutamente! Pergunta a esta garota ali, esta filha da vaidade, quais são os combates que ela tem que travar contra o inimigo, e ela vai responder-lhe sorrindo que ela não tem nenhuma luta e que, aliás, ela nem sabe o que é ser tentada. Assim vocês verão, meus caros amigos, que a tentação mais terrível de todas, é exatamente não ser tentado. E vocês verão ainda mais! Vocês verão o estado daqueles a quem o demônio está preservando para o Inferno. Eu ousaria dizer ainda, que ele tem o máximo cuidado em não atormentar tais pessoas com a recordação de suas vidas no passado. Do contrário, seus olhos poderiam se abrir para seus pecados!
O maior de todos os males não é ser tentado porque há então motivos para acreditar que o demônio está apenas esperando nossas mortes para nos arrastar para o inferno. Nada poderia ser mais fácil de ser entendido. Apenas considere o cristão que está tentando, ainda que seja de um modo pequeno, salvar sua alma. Tudo em volta dele parece incliná-lo para o mal, ele dificilmente consegue levantar os olhos sem ser tentado, apesar de todas as orações e penitências! E mesmo assim, um pecador empedernido, que passou uns 20 anos chafurdando na lama do pecado ainda tem a coragem de dizer que não é tentado! Este está num estado muito pior, meus caros amigos, muito pior! Isso é o que deveria fazer você tremer de pavor: não saber o que são as tentações, pois dizer que você não é tentado, é o mesmo que dizer que o Demônio não existe ou que ele perdeu todo seu raio de ação sobre as almas cristãs.
São Gregório nos diz: "Se você não sofre tentações é porque o demônio é seu amigo, seu líder e seu pastor. E ao permitir que você passe sua pobre vida na tranqüilidade, no final de seus dias, ele lhe arrastará com todos os outros para as profundezas do abismo". Santo Agostinho diz-nos que a maior tentação é não sofrer tentações, pois isso apenas significa que uma pessoa assim, é uma pessoa que foi rejeitada por Deus, abandonada por Deus, e deixada inteiramente à mercê de suas próprias paixões.  Fonte

terça-feira, 8 de maio de 2012

Santo Cura D'Ars, ELES PERTENCEM AO MUNDO


ELES PERTENCEM AO MUNDO

Uma parte, e talvez a maior parte das pessoas, está totalmente envolvida com as coisas deste mundo. E neste largo número, existem aqueles que se julgam felizes por terem suprimido todo e qualquer sentimento de religiosidade, todo e qualquer pensamento sobre a vida eterna, aqueles que fizeram de tudo que estava em seu poder, para apagar da memória, a terrível recordação do Julgamento, no qual um dia, todos nós teremos que nos apresentar e prestar contas. Durante o curso de suas vidas, eles usam de tudo quanto é artimanha, e freqüentemente até suas posses, para atraírem para o seu modo de vida, tantos quanto puderem. Eles já não acreditam em mais nada. Aliás, eles até sentem um certo orgulho em se exibirem mais ímpios e incrédulos do que realmente são, para poderem convencer os outros a acreditarem, não em verdades, mas sim em falsidades, que vão fincando raízes nos corações daqueles que são influenciados por eles.
Durante um jantar que Voltaire deu num certo dia para seus amigos, – um bando de ímpios – ele rejubilou-se porque entre todos os presentes não havia um sequer que acreditava em religião. Embora no fundo, ele próprio ainda acreditava. Tanto é verdade, que ele demonstrou isso claramente na hora de sua morte. Naquele momento crucial, ele ordenou com grande pressa que um sacerdote fosse levado à sua presença para reconciliar-lhe com Deus. Mas foi tarde demais!
Deus, contra Quem ele havia lutado e falado mal com tanta fúria, durante toda a sua vida, agiu com ele do mesmo modo como agiu com Antíoco IV. Deus simplesmente o abandonou à fúria dos demônios. Naquele momento de pavor, Voltaire tinha apenas o desespero e o pensamento da condenação eterna que lhe estava destinada. O Espírito Santo nos diz: "O tolo diz em seu coração: não existe Deus". Mas é apenas a corrupção de seu coração que o leva a cometer tais excessos. No fundo, no fundo, ele não acredita nisso. Ou seja, aquelas palavras: "Deus existe", nunca desaparecerão inteiramente de seu coração. O pior dos pecadores sempre proferirá o nome de Deus, mesmo sem pensar no que está dizendo! Mas deixemos esses blasfemos de lado. Felizmente, apesar de vocês não serem tão bons cristãos como deveriam ser, graças a Deus, vocês não estão entre esse tipo de gente.
Mas então vocês me perguntarão, afinal quem são essas pessoas que estão parcialmente do lado de Deus e parcialmente do lado do mundo? Bem, meus caros filhos, permita-me descrevê-los. Eu vou compará-los, se me permitirem usar o termo, com cachorros que correm atrás do primeiro que os chamar ou lhes acenar. Vocês podem segui-los do amanhecer até o fim do dia, do início do ano até o final. Estas pessoas vêem o Domingo, simplesmente como um dia de descanso ou de lazer. Nesse dia, eles ficam mais tempo na cama do que nos dias-de-semana, e ao invés de se entregarem a Deus de todo o seu coração, eles nem sequer pensam no Altíssimo. Alguns deles estarão o tempo todo pensando em como será o seu "dia de lazer", outros estarão pensando nas pessoas que eles irão encontrar e ainda outros, nas vendas que eles irão fazer, ou no dinheiro que eles esperam gastar ou receber. É com grande dificuldade que essas pessoas fazem o Sinal da Cruz, e quando o fazem, fazem de um modo desleixado. Por outro lado, já que elas irão à Missa mais tarde, elas simplesmente negligenciam as orações que todos os dias deveriam fazer, dizendo como desculpa: – Oh! Eu terei tempo de sobra para fazê-las antes da Missa! Essas pessoas sempre têm algo mais importante a fazer antes de se prepararem para ir à Missa e apesar de terem planejado orar um pouco antes de saírem para a Igreja, dificilmente conseguem chegar a tempo para o início da Missa. Se encontram um amigo ao longo do caminho, não tem o menor escrúpulo em voltar para casa com o tal amigo e deixarem a Missa para outra ocasião.
Mas porque ainda querem se parecer "bons cristãos", tais pessoas acabarão por irem à Missa talvez algum tempo mais tarde, embora sempre o fazendo com relutância e achando um infinito aborrecimento. Durante a Missa, o único pensamento que lhes ocorre é aquele: "Ó meu Deus, será que essa Missa não acaba nunca?!" Você pode também observá-los dentro da Igreja, especialmente durante a homilia, olhando sempre de um lado para outro, perguntando à pessoa do lado pelas horas e assim por diante. Uma boa parte delas, fica folheando o Missal como se estivessem procurando por algum erro de impressão. Há outras que podemos ver dormindo e até mesmo roncando como se estivessem confortavelmente deitadas numa cama. Quando acordam assustadas, o primeiro pensamento que lhes vem em mente, não é aquele de terem profanado um local santo, mas sim este:
Oh meu Deus! Esse padre ainda está falando? Será que esse sermão não termina mais? Desse jeito eu não volto mais!
E finalmente existe também aqueles para quem a Palavra de Deus (que tem convertido tantos pecadores) é verdadeiramente nauseante. Eles não tem vergonha de dizer que são obrigados a sair pelo menos por alguns minutos da Igreja, "para poderem respirar um pouco ", caso contrário eles morreriam! Você sempre os verá desinteressados e tristes durante as Missas. Mas espere pra ver Quando a celebração terminar! Freqüentemente, mesmo antes do sacerdote deixar o altar, eles já estarão com um pé pra fora da porta de entrada. Serão sempre os primeiros a abandonar a assembléia e qualquer um perceberá que toda aquela alegria que haviam perdido durante a Missa, subitamente voltou!
Geralmente essas pessoas estão sempre tão cansadas, que nunca terão forças para retornarem para qualquer outra atividade durante a noite: Vigílias, Adoração Solene do Santíssimo Sacramento... etc. E se você lhes perguntar, por que elas não compareceram, elas simplesmente responderão:
"Ah! Você também não quer que eu passe o dia inteiro na Igreja, não é? Afinal, tenho outras coisas para fazer!"
Para tais pessoas, não existe nada que se aproveite nas homilias, nem no Rosário ou nas Orações Noturnas. Elas vêem essas coisas como simples conseqüências. Se você lhes perguntar o que foi dito durante a homilia, elas sempre responderão: – Ah! O Padre não fez outra coisa a não ser gritar muito durante o sermão... foi enjoativo demais... eu não consigo me lembrar de absolutamente nada.... Ah! se ele não tivesse sido tão demorado, eu ainda poderia me lembrar de alguma coisa... tá vendo porque todo o mundo não gosta de ir à Missa? É porque ela é comprida demais!
Pelo menos uma coisa esta pessoa disse certo: "todo o mundo", porque tais pessoas pertencem à classe dos "mundanos", embora eles próprios não saibam disso. Mas agora vou tentar fazê-los compreender as coisas um pouquinho melhor, pelo menos se eles quiserem... Mas sendo eles, surdos e cegos como são, é muito difícil fazê-los entender as Palavras de Vida Eterna ou o seu estado tão infeliz. Só pra começar, eles nunca fazem o Sinal da Cruz antes de uma refeição e nem tampouco fazem Ação de Graças depois das mesmas, e muito menos recitam o Ângelus. Se por acaso ainda observarem esses preceitos, devido à força do hábito ou apenas por costume, eles o farão de um modo tão superficial que qualquer um ficaria decepcionado ao vê-los: as mulheres o farão, ao mesmo tempo em que gritam com os demais membros da casa ou chamam as crianças para a mesa, os homens o farão distraidamente enquanto rodam o chapéu de uma mão para outra como se estivessem procurando por algum buraco. O modo como eles pensam em Deus, e o modo como se comportam nos leva facilmente a pensar que eles não tem nenhuma fé e que tudo que fazem, o fazem apenas por brincadeira. Tais pessoas não têm o menor escrúpulo em comprar ou vender nos dias santos e domingos, muito embora saibam que quando não se tem um motivo razoável para isso, é sempre um pecado mortal. Tais pessoas vêem todos esses fatos como bobagens. Alguns chegam a freqüentar a Igreja nos dias santos apenas para recrutarem trabalhadores e se você disser que o que estão fazendo é errado, elas simplesmente responderão:
Nós temos que ir é onde as pessoas se reúnem e quando elas podem ser encontradas! Elas também não se importam nem um pouco em pagar suas contas aos domingos, afinal durante a semana precisarão de todo o tempo disponível para adiantar seus trabalhos.
Você então me dirá: – Nenhum de nós se preocupa muito com essas coisas!
E eu lhes digo, vocês não se preocupam, meu caro povo, porque vocês também são todos mundanos. Vocês querem servir a Deus e ao mesmo tempo satisfazerem aos padrões deste mundo. Vocês percebem, meus filhos, quem são esse tipo de gente? São pessoas que ainda não perderam completamente a Fé e que de alguma maneira ainda permanecem ligados ao serviço de Deus, são pessoas que ainda não abandonaram de vez todas as práticas religiosas e que chegam inclusive a achar falta naqueles que não freqüentam a Igreja de jeito nenhum, mas elas próprias não têm coragem de romper com o mundo para passarem exclusivamente para o lado de Deus.
Tais pessoas não desejam ir para a condenação eterna, mas também não querem se meter em situações muito inconvenientes. Elas acham que serão salvas sem ter que fazer muita violência contra si próprias. Elas têm uma idéia de que Deus sendo tão bom, não criou ninguém para a perdição e que no final, apesar de tudo, Ele perdoará a tudo e a todos; que no tempo propício todos se voltarão para Deus, que corrigirão suas faltas e abandonarão seus maus hábitos. No caso de em algum momento de reflexão, chegarem a dar uma repassada em suas vidas mesquinhas, talvez eles até se lamentem por seus pecados e algumas vezes pode até ser que chorem por causa deles...
Meu filho, quão trágico é a vida daqueles que querem seguir os caminhos do mundo sem, no entanto deixarem de ser filhos de Deus! Vamos um pouquinho mais adiante e vocês serão capazes de compreender mais claramente e ver com os seus próprios olhos o quão estúpido esse estilo de vida pode ser. Num determinado momento você chegará a ouvir tais pessoas rezando ou fazendo um ato de contrição. Pouco depois se alguma coisa acontece, do modo contrário ao que eles esperavam, você poderá ouvi-los fazendo imprecações e até mesmo usando o Santo Nome de Deus em vão. Pela manhã você talvez os encontre na Missa cantando ou louvando a Deus. E no mesmíssimo dia você poderá ouvi-los espalhando aos quatro ventos as conversas mais escandalosas.
Ao entrar na Igreja, eles molham as suas mãos na água benta pedindo a Deus que os purifique dos seus pecados. Um pouquinho mais adiante estará usando essas mesmas mãos em atos impuros contra eles próprios ou contra o seu próximo. Os mesmos olhos que pela manhã derramavam lágrimas de emoção ao contemplar Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento, durante o resto do dia se concentrarão em observar as cenas mais imodestas. Ontem você viu um determinado homem fazendo um ato de caridade ou prestando um serviço ao seu próximo, hoje esse mesmo homem dá o melhor de si para trair seu vizinho, buscando seu próprio lucro. Há poucos momentos atrás, aquela mãe desejava todo o tipo de bênçãos para seus filhos, e agora, só porque eles a aborrecem com suas travessuras, ela roga uma verdadeira chuva de pragas sobre eles: diz que desejaria nunca mais vê-los em sua presença e acaba até os mandando para o Diabo! Num dado momento, ela os envia para a Missa ou para a Confissão, já em outro momento, ela os envia para os bailes, ou pelo menos faz de contas que não sabe que eles se encontram lá, ou até mesmo se chegar a proibir, sempre o fará com um sorriso nos lábios, deixando perceber que mais aprova do que condena. Numa determinada ocasião, essa mesma mãe dirá à sua filha para ser recatada e não se misturar com as más companhias e dali a pouco, estará permitindo que sua filha passe horas a sós com um rapaz sem dizer uma só palavra. Não preciso dizer mais nada, minha pobre mãe! Vê-se claramente que você está do lado do mundo! Você até acha que está servindo a Deus por causa das práticas exteriores de religiosidade que você pratica. Mas você está enganada; você pertence àquela classe de gente da qual o próprio Jesus Cristo disse: "Ai do mundo!...”.
Observe bem essas pessoas que pensam estar servindo a Deus, mas que estão vivendo verdadeiramente segundo as máximas do mundo. Elas não têm o menor escrúpulo em tomar as coisas do seu vizinho, quer seja alguns pedaços de lenha ou frutas, ou mesmo milhares de outras coisas. Sempre que forem lisonjeadas ou elogiadas pelo que fazem em termos de religião, sentirão um grande orgulho por suas ações. Tais pessoas são sempre muito entusiasmadas em dar bons conselhos aos outros. Mas deixe que elas sejam submetidas a algum contratempo ou calúnia e vocês verão como elas se comportam por terem sido tratadas de tal modo! Ontem estavam dispostas a fazer todo o bem desse mundo àquele que as ofendeu, hoje mal conseguem tolerar tal pessoa e freqüentemente não conseguem sequer vê-la ou falar com ela.
Pobres mundanos! Quão infelizes vocês são! Sigam em frente com esse modo de vida e vocês não terão nada a ganhar a não ser o Inferno! Alguns de vocês até gostariam de freqüentar o Sacramento da Confissão, pelo menos uma vez no ano, mas para isso, primeiramente teriam que encontrar um confessor daqueles bem condescendentes. Imagine... até gostariam... se isso fosse todo o problema! Suponhamos que encontrem um confessor que perceba que suas disposições não são boas, ou seja, falta-lhes o arrependimento e a contrição, e que, portanto se recuse a dar-lhes a absolvição! Imediatamente se põem a falar mal do confessor, procurando se justificarem a si próprias pelo fato de terem tentado e falhado em obter o Sacramento. Com certeza, elas falarão muito mal daquele confessor, apesar de terem pleno conhecimento de seu estado pecaminoso e de saberem muito bem porque o confessor recusou a dar-lhes a absolvição. De todo modo, eles sabem bem, que o confessor não pode fazer nada para conceder aquilo que eles querem, ainda assim elas não se dão por satisfeitas em sair espalhando suas mentiras!
Continuem assim, filhos deste mundo! Continuem nessa rotina; vocês vão ver um dia aquilo que jamais desejariam ver! Eu sei que vocês gostariam de repartir seus corações em dois! Mas não tem jeito, meus amigos: ou é tudo pra Deus ou é tudo para o mundo. Vocês querem receber com freqüência os Sacramentos? Muito bem, pois então, abram mão das danças, dos cabarés e das diversões pecaminosas! Hoje vocês possuem a graça em grau suficiente para virem até aqui, apresentarem-se voluntariamente no Tribunal da Penitência, ajoelhar-se diante da Mesa Sagrada e partilhar do Pão dos Anjos. Daqui há três ou quatro semanas, talvez até menos, vocês já serão vistos passando as noites ao lado dos bêbados, e o que é pior, se entregando aos mais horríveis atos de impureza! Pois continuem assim, filhos deste mundo! Logo, logo vocês estarão no Inferno! Lá eles ensinarão a vocês tudo que deveriam ter feito para conseguir o Céu, que vocês acabaram perdendo inteiramente por sua própria culpa!
Ai de vocês, filhos deste mundo! Continuem assim; sigam o mestre que vocês tem seguido até agora! Muito cedo vocês perceberão o quão errado vocês foram ao seguir esses caminhos. Mas será que isso os fará mais sábios? Infelizmente não. Se alguém nos trai uma vez, nós logo dizemos: –Nunca mais voltarei a confiar nele novamente! E com razão! Mas o mundo nos trai continuamente e mesmo assim continuamos a amá-lo. São João nos adverte em sua Primeira Epístola: "Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo não está nele o amor do Pai”. Ah! Meus caros filhos, se nós tivéssemos a menor idéia do que é o mundo, passaríamos nossas vidas em dar-lhe adeus. Quando uma pessoa atinge a idade de quinze anos, ela dá adeus aos tempos de sua infância, ela olha para trás e vê como efêmeras e bobas eram as brincadeiras de crianças, como construir castelinhos de areia. Aos trinta, a pessoa começa a deixar de lado os prazeres consumistas da juventude leviana. Aquilo que dava tanto prazer nos dias de juventude, começa a tornar-se aborrecido. Se formos pensar bem, meus amigos, todos os dias estamos dando adeus a este mundo. Somos como viajantes que desfrutam da beleza da paisagem apenas enquanto estão viajando. Mais cedo do que esperamos, veremos o tempo que deixamos para trás. E é exatamente a mesma coisa com os prazeres e bens dos quais nos tornamos tão apegados. Chegará o dia em que a Eternidade jogará todas essas coisas num profundo abismo. E então, meus caros irmãos, o mundo desaparecerá para sempre dos nossos olhos e reconheceremos a nossa loucura em termos sido tão apegados a ele. E a respeito de tudo o que nos foi dito sobre o pecado? Só então veremos que era tudo verdade! Coitado daquele que tiver vivido somente para o mundo! Aquele que não buscou outra coisa senão o mundo em tudo aquilo que fez... De repente todos os prazeres e alegrias do mundo já não mais existem! Tudo estará escapulindo de suas mãos: o mundo, suas alegrias, todos os prazeres que ocupavam seu coração e o que é pior: também sua alma!

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